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Psicologia e Religião

Um assunto que se tornou polêmico tempos atrás, por conta de uma abordagem não reconhecida pelo CFP, a tal da Psicologia Cristã. Tal polêmica, faz surgir novamente uma espécie de discussão acerca do tema, onde, se assinala a principal cisão dentro da ciência psicológica - A Psicologia enquanto estudo da Alma e a Psicologia enquanto ciência da Mente.



Obviamente, o tema daria um belo e longo livro sobre psicologia; um trabalho já adiantado/realizado por Jung, em: Psicologia & Religião e Espiritualidade e Transcendência, entre outros.; como também por William James, em As Variedades das Experiências Religiosas; e inúmeros outros psicólogos; citei apenas os dois maiores psicólogos de "nosso tempo" Jung e James, referência de Leary (1964) para, ao menos, tentar evidenciar a importância do tema para a nossa ciência, mesmo eu, sendo totalmente contra o enfoque puramente religioso dentro da psicologia - o seja, quando o método se pauta apenas ou basicamente em técnicas e expressões religiosas.


Contudo, enquanto estudiosos do ser humano, em sua mais complexa formação e expressão, não podemos negligenciar a parte espiritual/religiosa de quem nos pede auxílio. Ou seja, se consideramos em nossa esfera de atuação as questões orgânicas deste indivíduo, porque o assunto espiritual tornou-se um tabu em nossos dias? O símbolo oficial da Psicologia, o tridente, nada mais é que a representação desta tríade - Corpo; Alma e Espírito. Em nosso objeto de estudos, esbarramos constantemente tanto nas questões do corpo, quanto nas questões espirituais. O embate se estende, pelo simples fato de sermos ocidentais, e as diferenças entre a Alma e o Espirito, não serem completamente compreendidas por nós de uma forma geral; talvez ai, se encontre o Elo da cisão da Alma para a Mente, já que nossa ciência é mais "próxima", por assim dizer do corpo, que do espírito. Se fossem a mesma coisa, não teriam, obviamente, o mesmo nome.


Na prática clínica, buscamos (eu pelo menos busco) a compreensão - mais ampla possível - de todos os eventos que formam, influenciam e direcionam o Sintoma, nas mais complexas formações, para então, através dessa compreensão, possamos hipoteticamente, alcançar o trauma que o originou; e a partir destes, compreender o desenvolvimento do sintoma, onde as repetições ocorrem, desvendando e fazendo emergir os significantes, como também, trazendo outros significantes para assim, romper o elo que sustenta o Sintoma; é quando o indivíduo finalmente aprende a "lição" que seu inconsciente insiste em lhe transmitir. Ou seja, é um enfoque que parte do simples (aquilo que o indivíduo tem consciência), para o complexo (aquilo que o indivíduo não tem consciência - inconsciente). Sei que não é tão simples assim, mas por hora, basta.


Na busca por essa compreensão, não podemos negar os aspectos do espírito, porque sem a parte religiosa, não temos essa compreensão na íntegra. Seria o mesmo que "negar" que uma lesão no cérebro, fosse a razão de uma esquizofrenia; ou ainda que baixos níveis de testosterona geram sintomas de depressão. Porque então, um trauma ligado a religião, não poderia "ser" a razão para um outro sintoma qualquer? Lembro de uma citação que dizia que existem dois tipos de depressão, uma que se instala na pessoa por algum trauma e outro que já nasce com ela; infelizmente não lembro o autor, para citar com mais precisão, acredito que tenha sido do Ellemberguer. E, porque então, o conhecimento religioso e esotérico, não podem ser estudados da mesma forma como estudamos o biológico? O fato é que estamos nesse meio, e devemos ter conhecimento de quem está ao nosso redor. Porém, mais importante ainda, é permanecermos neste meio; é isto que nos torna psicólogos de fato.


Permanecer neste meio, é a posição do Psicólogo, ocupando a mesma "cadeira" que um "mestre ocidental" ou um sábio oriental; o qual é compreensível com as ideias do outro, mas não concorda totalmente com elas. Em perfeita oposição a quem diz que é tudo orgânico, como também, com quem afirma que se pode resolver tudo pelo viés espiritual. Na posição de psicólogo, devemos ter, ao menos, um conhecimento básico das mais diversas religiões, saber o básico sobre elas e, assim, consequentemente, estudarmos mais profundamente a de nossos clientes, para assim, compreendermos ele na íntegra, sem deixar de considerarmos a parte orgânica. Obviamente, não devemos impor a nossa própria religião ao outro, da mesma forma como não o fazemos com nossas questões pessoais (contra-transferência); devemos também, saber compreender quem não acredita em nada.


As vezes é necessário expor o óbvio.
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